Política

Desocupação Forçada em Jardim Tarumã: Famílias São Avisadas a Deixar Área Pública

Cerca de 50 famílias enfrentam a demolição de suas construções após orientação da prefeitura, que alega irregularidades em terreno destinado a expansão industrial; moradores reclamam de promessas não cumpridas.

4 NOV 2024 • POR Da redação • 10h09

Cinquenta famílias que habitam o Jardim Tarumã, em Campo Grande, estão em uma situação crítica, com a ordem de desocupação de suas residências e terrenos até às 12h desta sexta-feira (1º). A ação foi comunicada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), que enviou viaturas da Guarda Municipal e máquinas para a demolição das construções. Os moradores, que alegam ter sido “enganados”, expressam revolta ao lembrar que muitos vivem ali há pelo menos nove anos, acreditando nas promessas feitas durante a campanha da prefeita Adriane Lopes (PP), que assegurou que não haveria mudanças na área e que tudo seria regularizado.

Stefanny da Silva, 25 anos, mãe de duas crianças, conta que a comunidade se sentiu segura ao ouvir as promessas de que não haveria desocupação, até mesmo participando da campanha política. "Uns assessores da prefeita vieram aqui meses atrás e disseram que ninguém ia mexer com a gente. Foi por isso que investimos em nossas casas e até plantamos uma horta. Agora, as máquinas já começaram a derrubar nossas cercas, e temos que sair até amanhã", lamenta. Questionada sobre seus planos após a desocupação, Stefanny afirma que tentará "pegar o que sobrar e construir outra casa, porque não temos para onde ir".

Além dos relatos de famílias em situação de vulnerabilidade, um dos moradores que construiu uma casa de alvenaria, que teve sua residência parcialmente destruída, também se manifestou. Ele, que prefere permanecer no anonimato, enfatizou a frustração diante do cenário. "Aqui era um lugar de entulho, limpamos e investimos mais de 10 mil reais para construir. Agora, não tenho nem onde ficar e serei obrigado a ir para a casa de estranhos. É um sentimento de perda gigante", desabafou.

Outro morador, Jefferson dos Santos de Souza, 41 anos, que vive na região há muitos anos, apresentou sua angústia ao afirmar que, caso sua casa seja derrubada, só terá como opção viver na beira da estrada com seu cachorro. "Eu sou trabalhador, fui registrado pelo Censo morando aqui. Se derrubarem minha casa, vamos eu e o cachorro morar na beira da estrada", declarou, apontando para a BR-262 que passa ao lado.

A prefeitura, por sua vez, defende sua ação como necessária, pois a área é pública e faz parte da expansão do Polo Industrial da cidade. Em declaração, a Semadur ressaltou que houve denúncias de invasão e destacou que a operação foi cumprida conforme a legislação municipal. Segundo a secretaria, foram identificados apenas barracos em estágio inicial de construção e cercas que foram removidas, negando que houvesse famílias residindo no local.

Enquanto isso, a Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários (Emha) informou que está disponível para atender os afetados e verificar quem pode integrar programas de habitação emergencial. Contudo, a ansiedade e a incerteza predominam entre os moradores, que se sentem traídos e desamparados diante da iminente perda de seus lares. Essa é a segunda desocupação que ocorre na cidade em poucos dias, após a primeira ação no Portal Caiobá, onde outras famílias também foram surpreendidas pela demolição de suas moradias. Nas duas situações, os residentes afirmam que não foram notificados sobre a demolição, gerando um clima de desesperança nas comunidades afetas.